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Queremos ser médicos para salvar vidas, e quando isso não estiver ao nosso alcance? Será que estamos preparados para lidar com a morte, com um diagnóstico difícil ou um mau prognóstico? Nunca haverá uma forma fácil de comunicar uma destas más notícias, mas o modo como o fazemos pode ser decisivo para os doentes e, por isso, é importante sabermos agir nestas circunstâncias que fazem parte da nossa profissão. Atualmente, o modelo mais consensual para gerir esta situação e a carga emocional que ela acarreta é o Modelo SPIKES:
- S–Setting – preparar o contexto. É essencial planear o que queremos transmitir ao doente e procurar o melhor local para o fazer. Durante a conversa, devemos estar sentados, com o olhar ao nível do doente e evitar elementos distrativos e interrupções. Se o doente assim o desejar, poderá estar acompanhado.
- P–Perception – perceber o que o doente já sabe. Podemos tentar descobrir o que outros profissionais de saúde já lhe disseram ou então questioná-lo diretamente acerca das suas percepções. “O que é que sabe da situação do seu familiar que estava internado?”, “Como é que se tem sentido?”, “Sabe porque é que marcamos esta consulta?”, “A última vez que se sentiu mal, percebeu o que se estava a passar?”
- I– Invitation – avaliar o que o doente quer saber e a forma como gostaria de receber a notícia. “Algumas pessoas preferem não saber o diagnóstico. Quer saber o que tem? Ou prefere que informe um familiar seu?”, “Já tenho os resultados dos testes, quer que lhe explique o que se passa consigo?”
- K– Knowledge – partilhar a informação. Devemos iniciar com um “tiro de aviso” (“Infelizmente, as notícias que tenho para lhe dar não são as melhores”) e ver como o doente reage para depois adaptarmos calmamente o nosso discurso e avançarmos aos poucos com informação mais detalhada. Frases curtas ajudam o doente a assimilar melhor o que lhe queremos transmitir.
- E–Emotions – dar espaço ao doente para expressar as suas emoções e validar o seu sofrimento com respostas empáticas (“Imagino que seja uma situação difícil para si. Não queria ter de lhe dar esta notícia”). O choro e o silêncio devem ser respeitados. Quando o doente estiver pronto, devemos verificar se ele entendeu a informação que lhe foi transmitida e responder com sinceridade a todas as suas perguntas, esclarecendo todas as dúvidas e procurando saber os seus medos. (“O que é o que assusta mais?”)
- S–Strategy – planear o acompanhamento. Devemos desenvolver com o doente um plano de ação futuro que aborde a próxima fase de cuidados e o ajude a sentir-se apoiado. Devemos também perguntar ao doente quem é que deve ser avisado acerca da sua situação e se vai precisar de ajuda para o fazer. E ainda deixar um próximo contacto agendado e mostrar disponibilidade para o doente nos procurar sempre que for necessário, reforçando assim a continuidade de cuidados e a relação médico-doente.
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Buckman R. (1992) How to break bad news: a guide for health care professionals. Baltimore, MD: The Johns Hopkins University
SPIKES—A Six-Step Protocol for Delivering Bad News: Application to the Patient with Cancer – WALTER F. BAILE, ROBERT BUCKMAN, RENATO LENZI, GARY GLOBER, ESTELA A. BEALE, ANDRZEJ P. KUDELK