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Eventos de massas ou de multidões (mass gatherings) podem ser definidos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), como reunindo “mais do que um determinado número de pessoas num local específico para uma finalidade específica, por um período definido de tempo”. O relatório “Public Health for Mass Gatherings: Key considerations” (1), espelha a necessidade de planear adequadamente os grandes eventos de massas e dotar de recursos esta área, ainda pouco trabalhada em Portugal e até a nível internacional
Portugal é um país particularmente vocacionado para grandes ajuntamentos de pessoas, devido ao seu clima, ao peso do turismo e também à sua cultura. Existem inúmeros eventos de massas que colocam desafios específicos, desde os Santos Populares às manifestações políticas, da peregrinação a Fátima até aos grandes eventos desportivos. A existência de conhecimento e profissionais treinados para lidar com a vigilância epidemiológica deste tipo de eventos é fundamental, até para criar capacidade de lidar com eventos de dimensão internacional, como foram a EXPO 98 ou o EURO 2004, por exemplo.
A APORFEST (Associação Portuguesa de Festivais de Música) descreveu 210 festivais em Portugal no ano de 2015 (2) e neste contexto os riscos para a saúde aumentam pelo maior número de contactos interpessoais, a concentração elevada de participantes, oriundos de outras regiões ou países, com alojamentos e estruturas de restauração temporárias que podem contribuir para um maior risco de doenças transmissíveis e também frequentemente com consumos de álcool elevados e fazendo uso de drogas recreativas, o que pode também propiciar comportamentos de risco.
A intervenção da Saúde nestes eventos pode dividir-se em duas grandes componentes: a prestação de cuidados e a saúde pública.
A prestação de cuidados envolve a existência de recursos humanos e logísticos diferenciados, fundamentalmente virados para a emergência pré-hospitalar, mas que têm também que atender às necessidades habituais de uma comunidade com a dimensão de um festival, como sejam a descompensação de doença crónica.
A componente associada à Saúde Pública, sendo habitualmente mais discreta, é bastante mais vasta e inclui, entre outros, o cumprimento dos requisitos higio-sanitários (segurança alimentar, a qualidade de águas de consumo e recreativas, por exemplo), vigilância epidemiológica e as oportunidades de promoção da saúde.
Assegurar o cumprimento das normas é fundamental para a protecção da saúde dos diversos intervenientes. O quadro normativo é vasto e a mera aplicação dessas normas assegura já um nível de prestação de serviços muito elevado, garantindo o cumprimento dos requisitos higio-sanitários. Por vezes poderá até considerar-se que as normas pecam por excesso, pois várias delas não são adaptadas a estruturas de carácter temporário como as que frequentemente operam em eventos de massas.
No que toca à vigilância epidemiológica, além dos sistemas habituais, os eventos de massas geram necessidades de detecção e resposta mais ágeis. Em alguns eventos há já a criação destes sistemas, que integram ferramentas de registo e análise em tempo real, com componentes de Sistemas de informação Geográfica. Estes sistemas têm de reunir informação dos prestadores de saúde convencionais (Hospitais, Centros de Saúde, INEM, entre outros) mas também pelas estruturas temporárias que são disponibilizadas nos eventos. Esta diversidade de informação carece de uma análise adequada, com ferramentas próprias e que possam funcionar de forma descentralizada.
Por fim, os eventos de massas são oportunidades únicas para a promoção da saúde, tendo em conta o potencial de comunicação que está disponível, mas também a existência de alguns comportamentos que podem ser alvo de modificação.
Referências: